quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O fim da demonização hormonal



Vocês já ouviram falar no estudo WHI? Pois bem, em 2002, o Women's Health Initiative Estrogen Plus Progestin Study, mais conhecido como o Estudo WHI nos EUA, tinha como objetivo avaliar os efeitos da terapia de reposição hormonal (TRH) sobre o risco de infarto e de câncer de mama. Acabou sendo interrompido depois de 5 anos de seguimento das pacientes, porque a incidência de câncer invasivo da mama ultrapassou os limites de segurança preestabelecidos pelo Comitê de Monitorização e Segurança do estudo (CMS), além do aumento dos casos de tromboses. 

Mas, o tempo passou e mostrou vários erros nesse estudo, que, na verdade, foi um verdadeiro desastre do ponto de vista clínico. 

Uma das substâncias usadas foi um hormônio sintético retirado da urina de éguas grávidas (o antigo Premarin), mil vezes mais potente e que em nada se assemelhava aos hormônios humanos. Outra substância sintética usada em conjunto era um progestágeno que tentava imitar, mas era bem diferente da nossa progesterona natural.

Como se não bastasse, o uso foi feito por via oral, hoje não mais recomendado. Além disso, as mulheres que participaram do estudo não eram necessariamente saudáveis e em média tinham mais de 60 anos, eram obesas, com as coronárias já comprometidas e com alto risco para infarto e câncer de mama.

E o pior, as doses usadas naquela época eram altas e atualmente consideradas inadequadas para mulheres acima de 60 anos.

Resumindo, nesse estudo usaram substâncias erradas, nas mulheres erradas, na idade errada, pela via errada... Só podia dar errado... Entenderam?

Avaliações posteriores mostraram que, em relação ao câncer de mama, o que ocorreu foi a aceleração hormônio dependente do crescimento de um câncer preexistente e não a iniciação de um novo câncer. 

Infelizmente, a divulgação na imprensa leiga mundial, de maneira irresponsável e sensacionalista provocou uma grande polêmica na população feminina e no meio médico, entre ginecologistas, clínicos e cardiologistas, que perdura até os dias de hoje.

Com isso, nesses mais de 10 anos de demonização da reposição hormonal, uma geração inteira de mulheres foi prejudicada, por ter perdido os benefícios da TRH e infelizmente são aquelas que hoje encontram-se doentes ou com sérios riscos.


Felizmente, tudo evolui e temos ótimas notícias! Muita coisa mudou e hoje é possível fazer a reposição segura!

Na próxima publicação, vamos falar sobre O QUE MUDOU. Aguardem!

Dra. Patricia Valentini de Melo
Idealizadora da Choice Medicine, é formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e especialista em mastologia, ginecologia e obstetrícia.

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